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Nossas cidades precisam de urbanistas

  • mariana841
  • 15 de fev. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 16 de fev. de 2021


Uma das maiores preocupações de um bom projeto é lembrar que, além de atender os desejos e necessidades do cliente e respeitar todas as regras legais, ele precisa se inserir no espaço comum com responsabilidade. Arquitetos precisam ser urbanistas também.


Para discutir essa questão, que para mim é fundamental, vou usar a experiência profissional muito rica que tive na Irlanda, em um escritório de arquitetura em que trabalhei por dois anos e meio. Nesse período, conheci e vivenciei as regras para aprovação dos projetos e atribuo a elas a harmonia e cuidado que percebemos nas cidades europeias.



Os projetos são aprovados por urbanistas – vale ressaltar que urbanistas e arquitetos têm formações separadas lá. O importante para o poder público é que o projeto se insira bem no contexto externo e respeite os arredores e a privacidade de quem lá estava antes; O projeto interno, no entanto — e tudo que dele deriva — fica a cargo das decisões entre arquiteto e proprietário.


Um detalhe interessante é que a apresentação do anteprojeto, para ser liberado para o processo de aprovação, deve necessariamente ilustrar o contexto em que será inserido, ou seja, como ele será visto nos dois lados da rua, junto ao cenário já existente.


O respeito à vizinhança é analisado na aprovação do projeto através de regras preestabelecidas; é preciso que as aberturas, como portas, janelas e panos de vidro, não coincidam com as que já existem nas casas vizinhas. Devem ser respeitadas distâncias mínimas e ângulos. Ou seja, se o vizinho já estava lá, ele tem o direito à privacidade e é preciso comprovar no projeto que isso será respeitado.


É preciso, também, que os vizinhos estejam de acordo com o projeto. Ele fica disponível para verificação e durante três dias a notificação pública da intenção do projeto é publicada em jornais específicos. Se houver qualquer objeção por parte dos vizinhos, a prefeitura paralisa a aprovação para que uma comissão avalie as restrições.


As construções consideradas arquitetura vernacular – aquelas em que se verifica o emprego de materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída e configuram objeto importante por apresentar caráter local ou regional – são necessariamente preservadas quando são objetos únicos remanescentes e devem ser incorporadas pelo novo projeto. Mais que isso, e muito importante ressaltar, as que têm valor arquitetônico ou histórico são preservadas com extremo rigor e nunca abandonadas sem manutenção.


A grande diferença que percebo entre essa postura e a que normalmente tomamos nas nossas cidades brasileiras é que, nas belas cidades europeias, a preocupação está não só no conforto e resguardo dos direitos dos cidadãos que já estão acomodados regularmente, mas principalmente na harmonia da composição da rua e da cidade que é de todos. Ou seja, contrariamente ao nosso processo de aprovação, o autor do projeto pode fazer o que o cliente quiser na área dele, particular, desde que fique harmonizado com a rua em que ele está inserido e respeite a paisagem que é de todos.


Por tudo isso e muito mais, sem medo de errar, posso afirmar que nossas cidades precisam de urbanistas, o que são, aliás, todos os arquitetos por formação no Brasil.

1 Comment


gaspar51
Jun 11, 2023

Gostaria que em Lorena as pessoas se preocupassem com a harmonia da composição da rua. Sou paulistana, morei quase 50 anos no Itaim Bibi e o primitivismo de Lorena me assusta. Vim para cá porque conheci uma pessoa e me apaixonei.

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