Minha experiência com Arquitetura Vernacular na Irlanda

E aproveitando que eu falei da Irlanda no último post, quero contar também a história desse projeto localizado na Tower St em Rush que é um condado de Dublin, porque é bem peculiar.

Antes de começar o projeto, analisamos o terreno, o entorno com casas modernas de linhas retas e confrontamos com a legislação local para entendermos o que podia e o que não podia. O desejo do cliente era uma casa também moderna com vista para o mar nos fundos e fizemos o projeto e entramos na prefeitura para análise e aprovação. O projeto previa também a demolição da casa antiga existente e estava tudo dentro das normas.

Depois da primeira versão do projeto pronta, enviamos para a análise dos urbanistas e, em pouco tempo, recebemos um comunicado de que a casa existente no terreno se tratava do último exemplar ainda existente na região de construção feita com aquele material e se tratava portanto de arquitetura vernacular. Por esse motivo, a casa não só não poderia ser demolida como deveria ser incorporada ao projeto. Mas o que é arquitetura vernacular?

"Arquitetura Vernacular é uma forma de construção que usa materiais locais, algumas técnicas tradicionais, tipologias regionais e adequada ao ambiente." (Fonte UGreen.com.br)

Estamos falando aqui no Brasil, por exemplo, das construções de taipa (pau-a-pique), de adobe (aqueles tijolos grandes de demolição) madeira, pedras, bambu, telhado de palha, entre outros.

Na Irlanda, essa casinha específica tratava-se de construção com pedras retiradas das proximidades. No entanto, nesse caso, por não se tratar de imóvel histórico tombado, precisaríamos manter somente as paredes externas e poderíamos modificar todo o interior.

No começo o cliente desanimou, mas quando finalizamos a proposta com essas diretrizes ele gostou muito do projeto no qual transformamos a casa da frente numa brinquedoteca embaixo, e biblioteca em cima. A ligação com construção nova e moderna como eles queriam na parte de trás se dava através de uma caixa de vidro, com um deck de transição. Puro charme!

A proposta ainda previu descascar a parede da casinha da frente, para mostrar a pedra característica do local e o uso de material similar, que utilizamos na casa nova também. Além disso, a casa – como é comum nesses condados da Irlanda – recebeu um nome em irlandês, ao invés de número: "Nead na cGuach" que significa Ninho de Passarinho. (tenho pena dos carteiros rsrsrsrs).